sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Mitos e verdades sobre o diagnóstico inicial

Vamos fazer um teste?
Neste teste, apresentamos 15 frases sobre as sondagens com alunos do 6º ano. Leia e responda se considera as afirmações verdadeiras ou falsas.

No fim do questionário, não há tabulação de erros e acertos. A intenção é convidar você a refletir sobre a função da avaliação inicial e apontar maneiras de fugir dos equívocos mais comuns.

1. Em uma disciplina com a qual o aluno nunca teve contato, o ideal é partir do pressuposto que eles não sabem nada sobre o conteúdo.


Verdadeiro.


Falso.



2. É preciso tentar identificar o que os alunos não sabem em vez de focar o que eles sabem.


Verdadeiro.


Falso.



3. A avaliação inicial não é sinônimo de prova.


Verdadeiro.


Falso.



4. O diagnóstico inicial pode ser realizado apenas verificando se as respostas dos alunos estão certas e erradas.


Verdadeiro.


Falso.



5. O diagnóstico inicial não precisa abranger todo o conteúdo da disciplina de uma só vez.


Verdadeiro.


Falso



6. O diagnóstico inicial não pode demorar muito tempo para ser concluído.


Verdadeiro.


Falso



7. Perguntas abertas – como “o que você sabe sobre números?” – podem induzir ao erro.


Verdadeiro.


Falso.



8. É essencial escolher atividades adequadas à competência e ao conteúdo a ser avaliado.


Verdadeiro.


Falso.



9. O objetivo da sondagem é que os alunos demonstrem o conhecimento de assuntos específicos e já decorados.


Verdadeiro.


Falso.



10. Não é preciso manter um registro dos saberes.


Verdadeiro.


Falso.



11. A avaliação inicial deve valer nota.


Verdadeiro.


Falso



12. As informações levantadas no diagnóstico inicial devem ser consideradas no planejamento das aulas.


Verdadeiro.


Falso.



13. Não é preciso realizar avaliações diagnósticas todos os anos, já que os saberes das crianças são bem parecidos.


Verdadeiro.


Falso



14. Em Língua Estrangeira, o professor deve fazer somente perguntas que não exijam respostas no idioma.


Verdadeiro.


Falso



15. Em Matemática, pode-se dar uma lista de atividades, sem que seja necessário que os alunos registrem suas estratégias de resolução.


Verdadeiro.


Falso.



Intencionalmente, não oferecemos aqui nenhum resultado ou classificação em perfil, uma vez que a intenção não é quantificar o conhecimento sobre o diagnóstico inicial. A reflexão sobre o tema, no caso, é o principal objetivo.



Diagnosticando a sala de aula:Investigação individual

Continuando com a temática "Atividades diagnósticas" separamos mais um texto bem interessante para ser utilizado como apoio ao professor. Boa leitura!

Ao realizar as atividades diagnósticas,o melhor é que a atividade seja feita individualmente, com o professor chamando um aluno por vez, que deve tentar escrever algumas palavras e uma frase ditadas. Enquanto isso, o resto da turma precisa estar envolvido em uma atividade diversificada em que não seja necessária a ajuda do professor (a cópia de uma cantiga, a produção de um desenho, um jogo etc.). Essa é a estratégia usada por Eduardo Araújo, na EMEB Helena Zanfelici da Silva, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Alguns dias após o retorno às aulas, ele deixa as crianças envolvidas com jogos e brincadeiras sob a supervisão da estagiária que o acompanha em sala. Alfabetizador há mais de sete anos, Araújo sabe bem o valor da sondagem inicial. "Conhecendo a situação de cada aluno, consigo pensar melhor como será a rotina do bimestre e quais as intervenções devo fazer para ajudar os menos avançados a entender a lógica do sistema de escrita."


O ditado deve ser iniciado por uma palavra polissílaba, seguida de uma trissílaba, de uma dissílaba e, por último, de uma monossílaba - sem que o professor, ao ditar, marque a separação das sílabas (leia no quadro abaixo como preparar a lista de palavras). Após a lista, é preciso ditar uma frase que envolva pelo menos uma das palavras já mencionadas, para poder observar se o aluno volta a escrevê-la de forma semelhante, ou seja, se a escrita da palavra permanece estável mesmo num contexto diferente.

No começo de 2008, a escola onde Araújo leciona passava por grande reforma. Aproveitando a curiosidade das crianças, ele resolveu trabalhar com uma lista de objetos usados na obra do prédio. As palavras ditadas foram ferramenta, martelo, ferro e pá. E a frase escolhida foi: usei a pá na reforma.



Lista bem feita

Na sondagem, a escolha certa das palavras e da frase (e da ordem em que elas serão ditadas) é essencial. "O ideal é preparar uma lista de termos de um mesmo campo semântico, ou seja, agregados por uma unidade de sentido, e uma frase adequada ao contexto desse grupo", recomenda a formadora de professores Regina Câmara, do Programa Ler e Escrever. Deve-se evitar que as palavras tenham vogais repetidas em sílabas próximas, como ABACAXI, por exemplo, por causar um grande conflito para as crianças que estão entrando no Ensino Fundamental, cuja hipótese de escrita talvez faça com que creiam ser impossível escrever algo com duas ou mais letras iguais. Por exemplo: um aluno com hipótese silábica com valor sonoro convencional, que utiliza vogais, precisaria escrever AAAI. Os monossílabos ficam para o fim do ditado. Esse cuidado deve ser tomado porque, no caso de as crianças escreverem segundo a hipótese do número mínimo de letras, poderão se recusar a escrever se tiverem de começar por ele.



Observação e registro

Ficar atento às reações dos alunos enquanto escrevem também é fundamental. Anotar o que eles falam, sobretudo de forma espontânea, pode ajudar a perceber quais as ideias deles sobre o sistema de escrita. Na sondagem inicial feita com a lista de palavras relacionadas à reforma da escola, um aluno comentou com o professor Araújo:



- Ferro começa com "fe", de Felipe, não é? E termina com "o". Essa é fácil.



- Agora eu quero que você escreva "pá" - disse o professor.



O aluno parou um instante, tentou contar "as partes" da palavra com os dedos e ficou um pouco incomodado. Demorou bastante até se manifestar:



- Mas essa não dá para escrever. Fica só uma letra e isso não pode.



 O professor conseguiu perceber que a criança entrou em conflito, pois pensava que só se pode ler ou escrever palavras com três ou mais letras e, ao mesmo tempo, tinha construído a hipótese de que para cada emissão sonora uma letra basta.

Terminado o ditado, é imprescindível pedir que a criança leia o que escreveu. Por meio da interpretação dela sobre a própria escrita, durante a leitura, é que se pode observar se ela estabelece ou não relações entre o que escreveu e o que lê em voz alta - ou seja, entre o falado e o escrito - ou se lê aleatoriamente.

O professor pode anotar em uma folha à parte como ela faz a leitura, se aponta com o dedo cada uma das letras, se associa aquilo que fala à escrita etc. "Uma lista de palavras produzida pelo aluno, em situação de sondagem, sem a respectiva leitura, não permite analisar essa produção e identificar sua hipótese de escrita", afirma Regina.

Se o aluno escreveu LGA para o ditado da palavra martelo e associou cada uma das sílabas dessa palavra a uma das letras, é necessário registrar abaixo a relação de cada letra com uma sílaba. Há duas maneiras de fazer esse registro, usando marcação com sinais que indique quais as associações feitas pela criança:



LGA

(mar) (te) (lo)

Ou ainda:

LGA

É possível que o aluno utilize muitas e variadas letras, sem que o critério de escolha desses caracteres tenha alguma relação com a palavra falada. Nesse caso, se ele ler sem se deter em cada uma das letras, é necessário anotar o sentido que ele usou nessa leitura.

LPIEMAN

Esse tipo de marcação é importante, pois permite observar com mais clareza a hipótese que a criança tem e, posteriormente, os avanços que ela obtém ao longo do ano.



Atividades diversificadas

REGISTRE TUDO A observação da produção de cada um ao longo do ano mostra com clareza como ele avançou.Para que os alunos atinjam o objetivo previsto para o 1º ano - escrever alfabeticamente, ainda que com erros de ortografia -, o professor precisa acompanhar a evolução de todos, conhecendo os que demandam mais atenção, quantos têm hipóteses mais avançadas e os que estão alfabetizados. Esses últimos, particularmente, necessitam de outros conteúdos de ensino, como a ortografia.

O ideal é que seja construída uma tabela que contenha a evolução das hipóteses de cada um, comparando quanto evoluiu ao longo do ano. Com frequência, essa comparação traz agradáveis surpresas em relação aos que, apesar de não escreverem convencionalmente, realizaram avanços significativos em comparação com sua escrita do início do ano.

Com base nessa tabela, é possível também fazer uma análise crítica da rotina e das atividades que estão sendo contempladas. Será que todos interagem com outras fontes de texto e, nessa interação, refletem sobre a escrita e seu uso? Recebem informações de colegas mais experientes, que os ajudam a compreender o que está envolvido na leitura e na escrita? Têm a oportunidade de tentar ler por si mesmos? Contam com o apoio do professor, que oferece novas informações sobre a escrita e orienta seu olhar para os materiais escritos disponíveis na sala de aula, que podem ajudar no momento de decidir pelo uso de uma determinada letra? Encontram na escola um ambiente favorável à pesquisa, sendo encorajados a se arriscar e escrever segundo suas hipóteses?

É por meio das sondagens e da observação cuidadosa e constante das produções dos estudantes durante o ano que se pode saber em que momento se encontra cada um, se sua abordagem e rotina estão funcionando, qual a expectativa razoável de evolução para os que ainda se encontram em hipóteses mais primitivas e como ajustar o planejamento do trabalho para que, ao fim do ano letivo, todos estejam alfabetizados.